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Cia teatral do subsolo e sua sensível arte subterrânea

  • gina gótica-jhoey revisão do texto por Laguna
  • 26 de jul. de 2016
  • 8 min de leitura

Clique na foto e assista o video Teaser

A Cia. Teatral do Subsolo. O nome é sugestivo. Como toda arte subterrânea, ela busca refúgio e inspirações fortes e marcantes. O nome da companhia é uma homenagem ao romance "Memórias do Subsolo", do ícone da literatura universal Dostoievski.

A visão de sensibilidade, arte e teatro que a guia é marcada pelo cinema expressionista alemão e pelo estudo da estética expressionista em geral, além de pelo elemento do horror. É constituída pelos membros Danilo Borges, Flávia Borges, Giuliana Macedo, José Carvalho, Kris Mariano e Laguna.

Clique na 1 foto para ir a fan page do grupo e saiba mais.

Seu espetáculo, “Noferatu”, é uma versão moderna e poética do clássico de 1922. Cada movimento é militarmente calculado, já que não existem falas. O que há são metáforas sensórias, expressões que constroem esse universo tão peculiar do expressionismo de “Nosferatu”. O espetáculo, originado da adaptação e direção de Danilo Borges ainda em sua companhia anterior, é intimista e provocador. O olhar de cada personagem é marcante, avistando um abismo, mistérios, angustias e também inocência. Essa inocência perdida é que coloca o público como protagonista. Somos guiados pela sensibilidade, conseguindo nos enxergar na historia, quase uma síntese dos limites da existência humana, a avareza, amor, sonhos, ambição, medos, angustias, incertezas.

Com toda essa incerteza é que cada personagem consegue ser próximo e, ao mesmo, tão longe, profundo... De cada espetáculo, surgem novas adaptações. A arte é itinerante, não surge de forma litúrgica. Com toda essa incerteza do que poderá nos esperar em nossas vidas, ou no espetáculo, algo é certo: a companhia vai preencher uma lacuna que havia no teatro. Ela veio com personalidade. “Nosferatu” já é, e sempre será, o clássico da companhia. Muita merda a vocês!"

Temporada de agosto

Cemitério Araçá, às 20h (Chegar com uma hora de antecedência para retirar a entrada). Endereço: Dr. Arnaldo, 666 – São Paulo/SP. Classificação: 14 anos – Duração: 60 minutos. Quando: Agosto: 06, 13, 20 e 27. 50 lugares.

Confira a entrevista completa

Eu sou a Gina. Saudações das trevas do meu caixão, pintado com tinta guache.

1/Gina, Apresente-se para nós, relatando um pouco sobre o seu trabalho na companhia.

Olá, pessoal. Tenho 39 anos, minha formação universitária é em Letras pela USP (doutorado em literatura brasileira), sou revisor de textos e ator.

Laguna:Conheci em 2014 quase todo o pessoal da Subsolo que, na época, pertencia à Cia. Teatral Poeme-se. No ano seguinte, fui convidado para integrar o grupo. Eu não tinha nem a pretensão de compor o elenco, achava que faria algo mais administrativo. Meu foco era integrar uma galera que quisesse construir uma estrutura profissional no teatro. Mesmo assim, fui escolhido para fazer o Knock, o dono da imobiliária que manda Hutter fechar um contrato com o vampiro “Nosferatu” no famoso filme expressionista. Tenho muito orgulho daquela época. Eles não pegaram um artista, mas alguém que venerava a rotina do teatro e daria muito de si para ver o grupo crescer. Pouco menos de um mês depois, estreei e, entre março e abril deste ano, fizemos quatro apresentações no Madame Underground Club. Foram, ao todo, oito apresentações fazendo o Knock. Por uma série de divergências - que relatamos em um post fixo na nossa página -, cinco ex-integrantes da Poeme-se formaram a Cia. Teatral da Subsolo, juntamente com um colega que estudou teatro comigo no segundo semestre do ETA, o José. Desde maio, mudei meu personagem. Estou ensaiando o Hutter e o José, o novo membro, meu antigo papel, Knock. Já temos quatro datas marcadas para o Madame em novembro e estamos encaminhando propostas para apresentações para mais em breve.

2/GinaNa vida ocorrem encontros e desencontros, como você se encontrou no teatro, como foi essa fusão?

Laguna: O ano era 2004 e estava diante dos alunos de uma disciplina do meu curso de licenciatura em Letras. O professor propunha que fizéssemos uma leitura dramática de um texto literário. Meu escolhido foi Roberto Piva e lembro de que era um poema em que a Praça da República era vista sob o olhar de um cara que estava curtindo uma “viagem”. Eu nem decorei o texto e levei o papel lá para a frente. Não tinha nenhuma pretensão. Me sentei no chão e comecei a interpretar. O professor, que era chato pra caramba pra elogiar, comentou: “Olhem como ele entra no personagem”. Eu fiquei surpreso e pensei: “Eu gostei de fazer isso, mas será que é algo que eu possa fazer no futuro e que não amole as pessoas?”. Daí, passei a improvisar ou preparar performances em saraus que eu organizava ou de que participava. Até que, em 2014, decidi me profissionalizar como ator.

3/Gina Você é doutor em letras? Eu sou uma doutora em trevas rs. A primeiro ato pode parecer confuso. Acredito nessa poética que o teatro carrega. Ainda mais com uma estética expressionista. Como é seu dia a dia como grupo? Como ocorrem os ensaios e os estudos?

Laguna:Eu trabalho uma linha de teatro que é a minha cara. É muito engraçado, pois sofri bullyng no primeiro semestre do meu curso e, agora, simplesmente estou em casa na companhia. Devo a eles boa parte do meu aprendizado de palco. Nosso diretor, Danilo Borges, é um grande homem de teatro. Eu digo que metade do “Nosferatu” é dele. Adaptou, produz, dirige e faz o próprio. É um excelente diretor, com orientações muito precisas. Em média, ensaiamos uma vez por semana. Passamos a peça inteira, o Danilo faz seus comentários, fazemos os nossos e, se há tempo, passamos a peça inteira de novo. O que é mais difícil no “Nosferatu” é que nosso estilo de interpretação é muito estilizado. É quase como uma dança, movimentos muito calculados, matemáticos mesmo. E tudo tem que sair sem parecer mímica ou soar cômico. Primeiro, a referência é o próprio filme expressionista “Nosferatu”. Dali tiramos a atmosfera, os “tiques” dos personagens, a maquiagem. Depois, o trabalho é sacar a trilha sonora. Você tem que encaixar sua interpretação dentro da trilha sonora que percorre a peça inteira. Isso reforça o lance de que é quase que como uma dança. Por último, o estudo do seu personagem. Como não há falas na peça, você tem que dominar muito bem quem é o seu personagem. Quem ele é? De quando? De onde? O que ele faz? Como foi sua infância? Quais seus objetivos de vida? E por aí vai. Se não se acostumar a se pegar pensando no seu personagem, há o risco de ficar perfeito tecnicamente (os movimentos em cena), mas completamente chato dentro de você. Quem está no público pode perceber que está mecânico. Mas, aí, falo por mim, como ator. Mas meu grande preparo é em casa. Passo a peça inteira ao menos uma vez por semana. O ideal é passar duas vezes em um dia e duas vezes por semana. Se não passar a peça em casa, o ensaio será uma bosta rs.

4/Gina Quais sãos as suas referencias na dramaturgia/cinema/arte e literatura?

Laguna:Falo primeiro como artista. Aí, minhas referências são a Bíblia, Sade, Lautreamont, Rimbaud, Baudelaire, Nerval. Predominantemente na literatura. Na parte performática, Ney Matogrosso e Diamanda Galás. Já como ator, lembro de Juliana Galdino fazendo Medeia em 2003. A impressão é de que não preciso mais de teatro depois de ver aquilo. Trabalho de expressão, corpo, voz, tragicidade, etc. Vi coisas muito legais depois, mas Juliana é imbatível. Ela não precisa trocar seus anos de anonimato por 15 minutos de fama.

5/Gina Como é fazer teatro independente no Brasil? Acredito que isso seja o futuro o coletivo, esse teatro intimista e sensível.

Laguna: Bom, profissionalmente, eu sou novo no teatro. Aí, eu me permito discordar de você num ponto. A tendência é o teatro ficar menos teatro se o cara olhar mais o lado da sobrevivência financeira e ficar nisso. Isso que você falou, “teatro intimista e sensível”, eu identifico como “teatro de arte”, mais experimental. É mais difícil formar público nele. Se eu penso em musical, comédia, política, stand up, vejo como o teatro de arte é menos popular, para um público mais específico.

Se você trabalha com um pessoal focado e dedicado, pode ser questão de tempo ganhar um edital, o caixa crescer e a segurança de que tem para bancar a produção de uma próxima apresentação. É onde eu vejo a nossa companhia. Mas, aí, repito, é a minha visão.

6/Gina O grupo já pensa em produzir um novo espetáculo? Vai ser nos moldes expressionistas, poderia nos adiantar sobre algo? A curiosidade habita rs.

Laguna: Boa pergunta! Até onde acompanho, “Nosferatu” continua enquanto tivermos público. Depois, já temos um trabalho em mente. Só posso adiantar que será uma adaptação expressionista de um famoso romance de horror. Na minha opinião, mais bem escrito e certamente mais influente culturalmente do que “Drácula”, base para “Nosferatu”. Já há uma proposta de personagem nessa peça para mim e já sinto a responsabilidade.

A encenação seguirá os mesmos moldes. Sem falas, trilha sonora, aquela movimentação calculada e, em alguns momentos, você ouvirá uma gravação que consiste em curtas narrações de alguns momentos da ação, para localizar o público na história. Já estamos usando esse recurso da gravação nos atuais ensaios para “Nosferatu”.

7/Gina Para fechar, queria que deixasse uma mensagem a quem pensa em trilhar o caminho da arte, e o que espera daqui para frente da sua cia? Muito obrigado pela contribuição. Tem alma gótica, mas também é cultura.

Laguna:Ah, obrigado pelo elogio rs. Bom, pra quem quer fazer teatro, eu pediria o favor de saber com quem está fazendo teatro. Se a pegada do pessoal é mais profissional, então pode não valer a pena se você vê teatro como hobby. Fode o ânimo dos outros e terão que trabalhar em dobro para te aturar. Não importa que você seja um artista genial. No pouco tempo em que fiz teatro, já vi gente arriscar e perder a vida para subir em um palco. Isso é mais do que os elogios que os seus parentes e amigos possam te fazer depois daquela peça em que você se preocupou só em “brilhar”.

Para quem for ficar, as dificuldades podem ser grandes. Para os atores que não têm grande talento – como eu -, se pergunte sempre por que você faz teatro. Quer levar isso para o resto da vida? Só queria ver como é por um tempo? Eu levo jeito para o teatro? Está disposto a fazer certos sacrifícios? Exercite a autocrítica, mas também aprenda a filtrar as críticas. Nos dois sentidos. O diretor vai falar que você está muito bem. Seu ego sobe, mas, uma semana depois, você se vê cometendo erros primários. Lide com isso. Por outro lado, o teu colega fala que você é uma bosta pode falar isso baseado na ideia do ator que “nasce pronto”. Você pode melhorar com a dedicação e já vi ator que paga de estrela, mas que tem uma visão, na minha opinião, rasa do que pode ser o teatro. Pode ser entretenimento e a galera pular e rir. Mas e se você interpretar um personagem para o qual precisará ler mais? Só improvisar não resolverá, então. Já vi isso e, pra mim, é raso. Pelo menos, não é o teatro que quero fazer. O cara se resolve no palco, não zoa a peça, mas não avança como artista além do entretenimento mais vulgar. Minha impressão, quando vejo essas coisas, é que o cara se sente seguro em fazer um negócio que custa menos tempo, esforço e que garante que, ao menos, não passará vergonha diante de um público que, necessariamente, não é muito crítico.

Quanto à companhia, espero que façamos apresentações regulares e no mesmo nível das anteriores. Ou melhores. E, ao leitor, vá lá ver a gente! Há companhias piores ou melhores do que a nossa; peças gratuitas, baratas ou caras. Mas sabemos que nosso trabalho é diferenciado, entre outras coisas, por ter como público-alvo o pessoal do rolê dark/gótico.

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